Os verdadeiros mapas são de sombra, ruído e caramelo
True maps are of shadow, noise and caramel
True maps are of shadow, noise and caramel
Installation
Double Projection on Steel Net, Tulle Fabric, and “El Caserio” Caramel Candy Wrapper
Habito nas vívidas memórias dos outros, onde ao fechar os olhos desvendo o seu quase tangível e quase meu. Desenrola-se perante mim uma tapeçaria acarinhada, que me traz o dia em que nos aconchegamos aos montes naquele pequeno carro, rumo a Espanha. Lembro-me das filas intermináveis, mas a nossa primeira paragem trazia um tesouro de novidades que não tínhamos em casa, ou o que não nos deixavam ter. Emerge a sombra do papel do caramelo espanhol, numa relação icónica de significados, que tanto aumenta como se funde quando confrontado com a luz
Henri Lefebvre, ao apresentar o Espaço Social como um “medium transparente, ocupado apenas pela luz, presenças e influências”, sugere-me a exploração dos vários processos de trabalho de luz no espaço. A projecção gera luz e imagem imaterial que, pela opacidade, produz transparências e sombras, em diálogo com o espaço por várias formas de escala, materialidade e absorção
Os registos de arquivo dessas passagens fronteiriças fundem-se a texturas digitalmente geradas pelo ruído de velhos microfones que comprei no terreno, numa relação som-imagem que apelidei de “mapas de ruído”. Ambas atravessam esses diferentes lugares de materialidade, deixando rastos de sombra: a estrutura, o tule, o papel do caramelo, o objecto encontrado no lugar
Projecto a minha presença nos lugares pelos seus intangíveis, mas vibrantes ecos que nos mobilizam enquanto povo, cujos traços e relações de escala podem bem ser a sua mais fiel representação e o seu honesto mapa.
The places we pass through, sometimes in an unengaged way, are besieged by plots of stories that mould their evolution as a lived spaces. The audacity of the "salto", the anguish of misery. The hardship of labour, the abnegation of saving, the hope of returning. The Border is a sponge that absorbs all the layers of the symbolic and emerges with the possibility of being rethought in order to deconstruct the supposed dichotomies that, in many places, erupt in the form of a wall. These echoes of time were rescued in two moments: an archive of Portuguese tin slums and, at the same time, Portuguese tin slums on the Parisian suburbs. The "salto" as a defining moment in the Border Experiences.
These digitally captured records return to analogue through the wet collodion of archive images captured on the computer screen. The border where people once jumped in search of something is thought of in a dialectic between the digital and the analogue, but also between the true and the false, since the object emerges as if it were a simulated archive. They return to the digital through projection.
Lata é Bidon proposes to materialise, in a single gesture, a space of transparency where intersections of colour are a dialogue with the narrative imagery of emigration from the can to the "bidon" or from misery to misery. A conflicting plot projected from two angles onto a tulle fabric that allows for different confluences between images through the elegant and immersive connection between light and space.
︎︎︎ BACK